18 dezembro 2012

Tempestades!


As batalhas travadas diariamente são uma constante na minha vida, mal abro os olhos sou logo cercada pela verdadeira realidade.

Há dias em que acordo sem vontade nenhuma de continuar esta guerra constante, com a qual tenho que me confrontar diariamente e da qual não posso fugir de maneira nenhuma. Resignar-me está fora de questão, porque não faz parte da minha natureza.

Tenho dias de verdadeiras tempestades (resultantes da revolta da minha realidade) e quem paga é quem está mais próximo de mim. Até chego a questionar-me como me podem aturar, porque eu própria, às vezes, não consigo aturar-me a mim própria. Esta tempestade repentina assim como vem, também se vai logo embora e fica um sol lindo, quem me conhece sabe que não passa de um descarrego de emoções acumuladas diariamente.

Sempre fui uma pessoa disse tudo o que me vem à cabeça, de tal modo que nem tenho tempo para pensar no que digo, às vezes prejudico-me com este comportamento. As palavras fogem-me da boca, contudo no instante seguinte, arrependo-me logo e verifico que às vezes até estava errada, mas tenho este feitio, o que hei-me fazer?! Acho que faz parte da minha natureza, posso fazer um esforço para mudar, mas e difícil, pois percebi que é da minha essência. Nos momentos em que me sinto mais frágil, esta minha característica só causa é mais tempestades.

Com esta mensagem quero transmitir que todos temos nossos dias menos bons. É importante que as pessoas façam um pequeno esforço para se entenderem, contudo eu preciso de fazer um esforço muito maior, pois sou eu que preciso de ajuda diariamente. O meu pai está comigo quase todo o tempo, é a pessoa que me ajuda nas minhas deslocações e é um grande amigo, se não fosse o esforço, persistência e dedicação dele, eu não estava como estou hoje em dia. Assim como o meu pai, a minha mãe é um poço sem fundo de amor. Muitas vezes é sobre eles que eu descarrego as minhas emoções.

As tempestades (aquelas reações de fúria contra as pessoas, por uma mínima confusão, mas que servem como descarga dos meus problemas) existem no quotidiano de toda a gente, e quem ousar dizer que não as tem, está a enganar-se a si próprio. Na minha opinião, devemos libertar os sentimentos como a raiva ou a mágoa que só nos prejudicam a nós próprios, porque ficamos tristes e magoados. E quem nos faz sentir assim, vai à sua vidinha e nem sequer pensa mais no assunto, é como se voasse como o vento.

 Continuo a achar que o mundo é cor-de-rosa, de tal forma que o meu irmão costuma dizer-me que eu acredito no pai natal e na fada dos dentes. Não sei desconfiar das pessoas, sou ingénua e não vejo maldade nas outras pessoas, embora hoje em dia esteja um pouco mais alerta.

30 novembro 2012

Perdas e ganhos!


Quando perdemos ou ficamos privados de uma situação ou mesmo de algo, nessa altura é que damos o devido valor.  

Quando a nossa condição física nos permite caminhar, saltar e correr, não damos valor à pedra preciosa que temos na mão, só quando a perdemos, é que sabemos realmente o seu valor.

Na minha situação atual, costuma dizer-se que não é carne nem é peixe. Estou numa fase que já ando sozinha, mas tem de haver alguém por perto durante a marcha, contudo no treino no tapete que envolve: no gatinhar, rastejar, atividades de joelhos, etc., já sou bastante independente.

Não pensem que me estou a queixar, pelo contrário, estou muito contente com os meus progressos ao longo destes anos todos.

O sentimento de perder algo (como por exemplo, um objeto que gostamos, uma amizade, a nossa independência, um amor, etc.), deixa-nos fragilizados e tristes, parece que nos tiraram o tapete e ficamos sem chão. Mas não podemos ficar agarrados àquilo que se perde, pois isso faz parte do passado.

No meu caso a perda foi considerável. Pois perdi quase tudo o que tinha conquistado ao longo da minha vida, só não perdi o amor dos meus pais, do meu irmão e família. Perdi a possibilidade de exercer a minha profissão, que tanto gostava, um casamento e uma casa já planeados, pessoas que julgava minhas amigas e que não o foram, concluindo, passei por muitas deceções.

Ganhei também uma grande lição de vida, ao ver o mundo de outro modo. Pensei lutar pelas minhas vitórias e sobretudo aprendi a dar mais valor a pequenas coisas que a vida nos oferece, como já referi na mensagem aprendizagem. É preciso acrescentar que também acabei por fazer novas amizades com pessoas bem-intencionadas que me têm ajudado muito.

Apesar da minha realidade ser completamente diferente da realidade antes do acidente, continuo a ser bastante otimista, persistente, teimosa e ansiosa. Às vezes prejudico-me, por ter este feitio.

O que quero transmitir é: o que se perde no passado fica no passado, pois já não é possível voltar atrás para se recuperar. Aprendemos a lidar com as novas mudanças. Quem nos rodeia também aprende e aqueles que ignoram passam pela viva sem provar a sua verdadeira essência.

É claro que podemos pensar naquilo que perdemos de uma forma saudosa, acho que é natural. O que não é normal é ficar de tal modo agarrado ao que se perdeu, que não se aprende a dar o verdadeiro valor ao que se ganhou com a nova mudança.

Deste modo a nossa vida é composta por constantes lutas e batalhas sucessivas, perdas e ganhos. Assim não podemos baixar as armas, porque há sempre a esperança.

 

11 novembro 2012

Comunicar


Comunicar foi uma das tarefas mais difíceis que tive de enfrentar no início.

Quando estava no chamado “coma vígil” era o pânico total, porque quem estava à minha volta falava comigo, eu queria responder, mas não conseguia. As coisas estavam claras na minha cabeça, mas não conseguia transmitir o que queria dizer e também não percebiam o que eu estava a tentar dizer.
Era tudo uma grande confusão, pois eu não sabia o que me tinha realmente acontecido, e além disso, a minha falta de visão, na altura, também não ajudou.
 Comecei a comunicar através das letras do alfabeto, como já referi na mensagem “Despertar”.
A primeira palavra que pronunciei foi: “mãe”, pois a minha mãe estava sempre presente. Ela falava comigo, costumava ler-me um livro (cuja personagem principal era uma pessoa ativa, assim como eu era antes do acidente, o que fazia com que eu me identificasse nela), punha-me a ouvir as músicas de que eu gostava, etc., ela não descansou nesta fase.
Em seguida, comecei a pronunciar sons e outras palavras, e quando o fazia, todo o meu corpo tremia, pois usava os músculos todos para conseguir falar. Mesmo assim, quase ninguém percebia o que eu estava a dizer, exceto a minha mãe, o meu pai, o meu irmão e as pessoas que lidavam comigo diariamente no hospital da Ordem Terceira, onde estive internada até ir para Alcoitão. Essas palavras que fui aprendendo a dizer referiam-se a coisas que necessitava naquele momento.
Por exemplo, eu dizia a letra “A” quando me queria referir à água. Isto foi muito importante, pois passei muita sedinha e não percebia porquê, como já expliquei na mensagem “Despertar”. Foi a partir deste momento, que comecei a beber água com o auxílio de uma escova de dentes molhada.
Pronunciar a palavra “manta” foi essencial, porque tinha alterações da temperatura corporal. Como tinha muitos espasmos, estava sempre a destapar-me e depois tinha um frio de rachar.
 A palavra “otite” também foi importante, pois assim os enfermeiros perceberam que eu estava com dores no ouvido, podendo finalmente dar-me medicação. Só muito mais tarde percebi que estas dores nos ouvidos, talvez fossem provocadas pelas sessões de fisioterapia, uma vez que estas desafiavam o ouvido interno que contribui para o equilíbrio.
Poderia enunciar inúmeras palavras que também foram importantes, mas destaco apenas estas porque foram as primeiras. Depois, nunca mais parei de dizer novas palavras, finalmente podia falar.
Resumindo, claro que não comecei a falar claramente, mas quem me acompanhava compreendia o que eu dizia e isso bastava. Seguiram-se centenas de sessões de terapia da fala durante vários anos, mais adiante voltarei a falar acerca destas sessões.
É espantoso como o nosso cérebro é inteligente, digo isto porque as primeiras palavras que disse referiam-se a necessidades básicas que precisava no momento, o que significa que o nosso cérebro em situações extremas consegue adaptar-se.
Comunicar foi essencial na minha reabilitação. Permitiu interagir de forma eficaz com os meus terapeutas, existindo assim um feedback mútuo, o que foi muito importante.

03 novembro 2012

Bola Bobath


Desde sempre esta bola foi importante no meu processo de reabilitação, pois esta oferece muitos estímulos necessários para uma recuperação neurológica e não só.

Os estímulos pretendidos com a bola bobath são diversos, assim como: relaxamento muscular, alongamentos, equilíbrio, postura do tronco, ativação dos músculos do abdómen, estabilidade central e também ajuda a estimular as cinturas pélvica e escapular.

As atividades na bola bobath dependem da imaginação do terapeuta e dos músculos que têm que ser ativados ou desativados, conforme a necessidade.

O meu corpo adapta-se a cada estímulo novo e está em constante mutação, o que é bom, pois significa que o cérebro está a aprender.

Pessoalmente acho que este trabalho é muito importante, muito completo e é um dos que gosto mais.

Aqui estão alguns exemplos de uma pequena amostra desta panóplia extensa de exercícios que realizo:

Fig. 1: Treinar o equilíbrio e as cinturas.

Fig. 2: Alongamento.

Fig. 3: Alongamento.

Fig. 4: Ativação abdominal e cinturas.

30 outubro 2012

Reabilitação

A minha reabilitação tem sido muito lenta. É verdade que tenho passado por várias fases e todas tiveram a sua importância. A adaptação a cada fase tem o seu tempo certo, para poder adquirir e cimentar cada estímulo, vindo essencialmente de centenas de sessões de fisioterapia ao longo destes anos todos. Mais tarde, falarei sobre as diferentes etapas da minha reabilitação.
Este processo de reabilitação só foi possível graças ao amor e dedicação incondicional dos meus pais, do meu irmão, da minha família, dos meus amiguinhos lá do céu, amigos mais próximos e também graças à dedicação extrema dos meus terapeutas, que estiveram comigo ao longo destes anos todos, sem nenhuma exceção. Todas estas pessoas acreditaram nas minhas capacidades e também que eu podia melhorar mais. Este processo é claro que, também dependeu da minha força e persistência, pois não poderia reagir de outro modo, uma vez que resignar-me não faz parte da minha natureza.
Mostro agora algumas atividades da minha reabilitação, que fazem parte do meu quotidiano:
Fig. 1: Alongamentos (Este é o alongamento que gosto mais, sabe tão beeemmmm).
No início eram precisos dois fisioterapeutas para me realizarem os alongamentos, de forma a me estabilizarem os membros inferiores.

Fig. 2: Alongamentos. 

Na figura 3, lá estou eu com o meu "guarda-costas" para o caso de eu "tombar". Quando iniciei a marcha, esta tinha que ser realizada com bastante apoio por parte dos meus fisioterapeutas.



Fig. 3: Treino de marcha sem apoio.

Em relação à figura 4, quando comecei na passadeira, tinha de ter vários fisioterapeutas, um para dar apoio ao meu tronco e dois para me porem os pés nas posições corretas. Atualmente, já consigo caminhar sozinha, mas continuo a precisar de algumas correções que se conseguem com muito trabalho.



Fig. 4: Treino na passadeira.



 Vídeo: Treino na passadeira.


Estes são apenas alguns exemplos de exercícios que eu realizo, mais tarde vou publicar mais.

Este é um trabalho diário de muita luta e dedicação, quem passa por este processo, sabe dar o verdadeiro valor.
 
A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável.
Mahatma Gandhi


21 outubro 2012

Shopping


Estava em casa e a minha prima desafiou-me para ir ao shopping, e la fomos. Raramente vou às compras, as roupas vêm ter até mim, a minha mãe compra ou oferecem-me.

Quando são deslocações muito grandes, ainda tenho necessidade de usar a minha cadeira de rodas velhinha (que se desmancha toda ao abrir, pois tem anos de uso e foi sempre a mesma desde o início, tenho de ir com as pernas no ar porque a cadeira de rodas não tem apoio para os pés, mas isso não tem problema, fortalece os quadricípites), porque tenho dificuldades em realizar caminhadas de longa duração, pois fico muito cansada devido ao esforço que faço a caminhar.

Ao chegar ao shopping confrontamo-nos com uma situação muito frequente, os lugares reservados para pessoas com deficiência estavam ocupados por carros sem dístico, são pessoas que não têm educação nenhuma nem respeito pelos outros.

Entramos pela porta principal, e qual não foi o meu espanto, quando verifiquei que as portas não são automáticas e que precisava de ajuda, pois é preciso alguém abrir a porta para eu poder passar, por acaso eu tinha ajuda da minha prima, mas há muita gente que não tem essa ajuda.

Quando vou às compras de roupa, deixei de as vestir na loja, porque as cabines de provas são muitos pequenas para duas pessoas. Eu até tenho mobilidade para vestir as partes de cima sozinha, mas as partes de baixo preciso de ajuda quando estou de pé, porque posso desequilibrar-me. Eu tenho a noção que este mundo está feito à medida das pessoas com mobilidade, por isso há que ter alguma sensibilidade e respeito por quem tem dificuldades.

Apesar destes contratempos, foi uma tarde muito agradável que terminou num lanche cheio de calorias e a rir.
 
Bom apetite!

16 outubro 2012

Aprendizagem


Vou tentar explicar o que significa, para mim, a palavra "aprendizagem".

Quando estamos no útero da nossa mãe, já há uma troca de emoções muito grande, quer em termos físicos, quer em temos psicológicos. É como se fosse uma osmose durante 9 meses, as emoções que ambos sentem são praticamente as mesmas, ou seja, o que o feto sente, a mãe também o sente.

Quando nascemos, a primeira coisa que se aprende é soltar um grande choro e aí os pulmões soltam-se para abraçar a vida, eu acho que esta é a nossa grande aprendizagem.

Quando somos crianças, tudo são descobertas, há um mundo inteirinho para explorar, isto é inato, mas quanto mais estímulo a criança tiver, mais esta se desenvolve.

Quando somos jovens, encaráramos o mundo como se não houvesse amanhã, o que é próprio da irreverência da juventude, pois estes vão ser os homens e as mulheres do futuro. São educados, ensinados e instruídos duma forma estereotipada, e claro dependentes do contexto socioeconómico e cultural ao qual pertencem.

A sociedade, hoje em dia, está muito exigente. A informação é quase instantânea, em que as pessoas começam a não ter tempo para elas e sobretudo, não têm tempo para parár e pensar no que andamos cá a fazer, neste mundo. Deixam de dar valor ao seu interior e começam a interiorizar sentimentos mesquinhos, assim como, a ira, a inveja, a avareza, a magoa, o ódio, etc., e ficam de tal modo agarrados a estes pensamentos que não disfrutam das coisas boas que a vida nos oferece.
 
Quando falo das coisas boas que a vida nos premeia refiro-me, por exemplo: Ao saber apreciar o mar (se estivermos atentos, conseguimos ouvir o seu interior e assim escutar os seus conselhos e avisos, pois este é sábio);
 
 
Escutar um rio a correr no seu manto e as suas quedas de água, tal como, escutar uma nora de um moinho junto ao rio;
 
 
Estar num campo extenso com relva e comer aquelas azedas mal semeadas e rebolar no mesmo;
 
 
Estar próximo de um grupo de crianças a brincar entre si e estar atento à sua ingenuidade (a energia que fica no ar é contagiante, eu atrevo-me a dizer que toma conta de nós e o que no dá tamanha alegria);
O sol a bater na cara, num fim de tarde, com uma suave brisa, sabe tao bem.
Podia enumerar uma série de situações fantásticas, mas deixo isso para quem está a ler esta mensagem, fazê-lo por breves instantes.


O que gostaria de passar com esta mensagem é que a vida passa demasiado depressa, e se o comboio nos ultrapassa, passamos por ela sem saber o que andamos cá a fazer nem qual é a nossa missão na vida.     

08 outubro 2012

Keep your head up

Ouvi no rádio esta música que me chamou à atenção devido à sua letra…
 



 
Keep Your Head Up - Ben Howard
 
I spent my time watchin' the spaces that had grown between us.
And I cut my mind on second best or the scars that come with the greeness.
And I gave my eyes to the bottom, still the seabed wouldn't let me in,
And I tried my best to embrace the darkness in which I swim.
Oh the darkness in which I swim.




Now I'm walkin' back down this mountain
With the strength of a turnin' tide
Oh the wind so soft at my skin,
The sun so hot upon my side.
Oh lookin' out at this happiness,
I searched for between the sheets.
Oh feelin' blind, to realise,
All I was searchin' for was me.
Ooo all I was searchin' for was me.




Keep your head up, keep your heart strong.
No, no, no, no.
Keep your mind set, keep your hair long.
Oh my darlin' keep your head up, keep your heart strong.
Oh no no no no, keep your mind set in your ways, keep your heart strong.




I saw a friend of mine the other day,
And he told me that my eyes were gleamin'.
Oh I said I had been away, and he knew,
Oh he knew the depths I was meanin'.
And it felt so good to see his face,
Or the comfort invested in my soul.
Oh to feel the warmth of his smile,
When he said "I'm happy to have you home."
Ooh I'm happy to have ya home.


 

Keep your head up, keep your heart strong.
No, no, no, no.
Keep your mind set, keep your hair long.
Oh my darlin' keep your head up, keep your heart strong.
Oh no no no no, keep your mind set in your ways, keep your heart strong.
'Cause I'll always remember you the same,
Oh eyes like wildflowers, with your demons of change.
Yeah, keep your head up, keep your heart strong.
Oh, No, no, no, no.
Keep your mind set, keep you hair long.
Oh my my darlin', keep your head up, keep your heart strong.
Oh no no no no, keep your mind set in your ways, keep your heart strong.
'Cause I'll always remember you the same.
Oh eyes like wild flowers with your demons of change.
May you find happiness there,
May all your hopes all turn out right.
Ooh may you find happiness there,
May you find warmth in the middle of the night.
 
 


Esta mensagem tem algum significado para mim, uma vez que, é isto que tenho feito toda a minha vida. Manter sempre a cabeça erguida, de forma a seguir em frente e a abrir caminhos.

07 outubro 2012

Vitórias

Nesta mensagem, vou revelar-vos pequenas grandes vitórias que foram essenciais para a minha reabilitação. Atualmente, encontro-me muito melhor e mais independente, em todos os aspetos.
 
 

 

 

Felizmente, nunca perdi a memória e intelectualmente, estou muito bem, pois a parte cognitiva não foi afetada. Por este fato, não fiquei agarrada a uma cama ou a uma cadeira para o resto da minha vida, que mal tinha começado. Aceitei esta nova realidade e luto contra ela todos os dias sem nunca cessar nem baixar as armas de guerreira que sou.
 
O tónus muscular diminuiu bastante, o que permite realizar as minhas atividades diárias, assim como, tomar banho sozinha (só preciso que me ajudem a passar para a banheira, o resto faço eu). Se me derem algum tempo, consigo vestir-me e despir-me sozinha, já estou muito mais rápida e coordenada e as amplitudes dos meus movimentos estão quase normais, aquilo que me custa mais são os movimentos muito finos, como apertar um botão ou apertar o soutien. Calçar os sapatos e pôr as meias foi uma dura batalha, mas eu venci esta pequena guerrilha.
 
Após anos de estímulos constantes, mobilizações, alongamentos e muitas dores musculares, hoje consigo caminhar na passadeira do ginásio, de uma forma certinha e controlada. Este trabalho na passadeira, para ser conseguido, foram precisos muitos pré-requisitos, tais como, ter a noção do meu corpo e do seu alinhamento, não basta só senti-lo. O mais importante é a forma como o meu corpo está representado no meu cérebro e estimulá-lo nesse sentido, de modo correto. Quando ando sozinha (se não estiver cansada), os passos saem duma forma automática. No presente, consegui perceber que não e preciso muita força, basta utilizar os músculos harmoniosamente, porque andar e fácil para quem nunca perdeu essa capacidade.
 
Através da fisioterapia, já consigo gatinhar, de modo certo, rastejar alinhada e rebolar sem ser em bloco. Estas novas aquisições dão-me um jeitão, porque ao virar-me na cama, já não desmancho os lençóis e não fico entalada nas roupas.
 
Comer pela minha mão foi um trabalho árduo. Comecei com um engrossador no cabo da colher, com um antiderrapante debaixo do prato e uma barra adaptada do lado direito para a comida não voar, tal não era a descoordenação que tinha. Hoje consigo comer sozinha, sem adaptações nenhumas. O que resultou do meu esforço e dos meus que me acompanham nesta caminhada da vida, e também, porque, os meus braços e as minhas mãos, já o permitem fazer de modo mais ou menos harmonioso.
 
Como já referi anteriormente neste blog, fiquei muito afetada da visão, mas graças a Deus e à minha força, recuperei bastante. Fiz vários exercícios de fisioterapia constantes para reconhecimento e ter noção do meu corpo e do seu alinhamento. Estes envolveram várias estratégias dadas pelos meus queridos terapeutas ao longo destes anos todos. A equidade visual ainda não está normal, assim como, os campos de visão. Mas estou no caminho certo para a recuperação da mesma. O que quero dizer com isto é, por exemplo, a palavra “continente”, ao primeiro olhar, não vejo o primeiro “e”, tenho que rodar a cabeça e só assim consigo ler a palavra. Mesmo assim, estou mais rápida a ler, principalmente desde que comecei a escrever no computador. Este processo só é possível com a ajuda de um programa, este “lê” as letras que eu clico quando estou a escrever e eu confirmo no ecrã.
 
Por isso, estou muito orgulhosa por ter criado este blog, pois é fruto de um grande esforço e trabalho da minha parte, tendo uma pequena ajuda da minha prima, a editora.


04 outubro 2012

Dar tempo ao tempo...



"Saber esperar é uma virtude! Aceitar, sem questionar, que cada coisa tem um tempo certo para acontecer...é ter fé!!" Positive Vibrations

03 outubro 2012

Acordar...

Vou tentar descrever o que eu senti e pensei durante os primeiros 3 meses, após ter acordado do coma vígil, no qual me encontrava.

Não é fácil mexer nas gavetas antigas e arrumá-las no sítio correto. Verifiquei como é difícil reviver todas aquelas memórias que já estavam adormecidas, o que me fez ficar um bocado relutante em fazê-lo. É claro que agora não as vivo com a mesma intensidade. Vou falar numa realidade, que é a mesma de centenas de casos semelhantes ao meu. Ninguém nos dá a devida atenção e arrumam-nos a um canto, porque surge um médico ou uma equipa médica, que se lembra de dizer que já não há nada a fazer, por isso mandam­-nos para casa ou para lares, como vegetais, onde acabamos o resto dos nossos dias.

Com certeza tive algum anjo da guarda que me ajudou nesta caminhada. O médico quis mandar-me para casa acamada, a comer por um tubo e explicou-nos que iria uma assistente social ou enfermeira a casa, ensinar-nos como lidar com a situação, que era a nova realidade para todos. Felizmente, a minha família interveio neste processo, a minha mãe confrontou os médicos e exigiu que eu ficasse no hospital e tivesse a reabilitação adequada para o meu caso. Já que não me tinham socorrido no tempo certo, agora tinham que fazer alguma coisa por mim, visto que eu tinha entrado pelo meu próprio pé no hospital.

Tive muitos pensamentos, pois a minha cabeça estava muito confusa e com alucinações. Não tinha consciência do que me tinha realmente acontecido, só passados uns 3 meses, é que comecei a ter a noção, com a ajuda de muitos estímulos exteriores e fisioterapia.Acordei em pânico total, não via nada, não conseguia comunicar (a minha mãe diz que eu fazia uns grunhidos que se ouviam no piso todo onde estava internada), ora sentia-me encharcada com o calor, ora sentia um frio de rachar, não sabia mesmo o que se tinha passado.

Pensamentos… julgava que estava morta e nunca mais me vinham buscar, pois aquele cenário todo, que estava na minha cabeça, parecia uma espécie de purgatório.



Não tinha a perceção do meu corpo, nem do que me rodeava, o meu pensamento era que estava dentro de uma botija de gaz, pois sentia-me muito apertada e só conseguia mexer a cabeça e mal.

Era o pânico querer comunicar e não conseguir, porque na minha cabeça, eu sabia muito bem o que queria, mas não conseguia comunicar, até arranjarem uma forma de o fazer. Primeiro através do piscar dos olhos para dizer sim ou não, o que foi uma grande confusão para a minha cabeça. Muito mais tarde, diziam o alfabeto e eu mandava parar nas letras que eu queria e assim construir a palavra que queria dizer, só assim conseguia obter o que desejava, o que me permitiu acalmar, mas pouco.

Passei tanta sede que sonhava com rios a correr, pensava que as torneiras todas do mundo tinham ficado sem água, só mais tarde percebi que, se me dessem água, podia fazer um broncoespasmo e sufocar.

Sentia que a minha cama estava cheia de picos e os pés apertados, mais tarde percebi o porquê. Eu ia descendo na cama, e os pés ficavam entalados.

Havia um senhor padre que ia visitar os doentes e rezava à beira das camas. Eu ficava muito perturbada, o senhor com certeza não o fazia com essa intenção, mas eu pensava que estava morta, deveria querer a salvação daquele sofrimento que estava a passar.

Os banhos eram uma maravilha mas também uma grande confusão. Parecia uma chaleira com água aquecida e eu andava ali aos tombos na banheira, mas sabia bem, porque me relaxava os músculos e eu ficava mais calma, até me punham perfume e deixavam-me aconchegada. Isto acabou quando fui transferida para o hospital da Ordem Terceira, pois os banhos eram dados na cama, e por isso, ganhei uma escamação no corpo todo e tive de cortar o meu longo cabelo, quase todo. Nessa altura a minha preocupação era a comichão que sentia principalmente na cabeça, lembro-me de pedir para me coçarem, pois não conseguia, até ficar quase careca.

Vou acabar com choraminguices, porque estas memórias fazem parte do passado e este já la vai. Se me apetecer voltar a falar acerca desta fase da minha vida, eu volto a escrever sobre o assunto.

 

 

26 setembro 2012

O início da minha longa caminhada..

Somente agora tenho capacidade para descrever realmente o que me aconteceu, quer em termos de organização mental, quer fisicamente.

 
Eu era uma jovem recém licenciada, em ensino da matemática e já a dar aulas na escola secundária da Azambunja, pronta para abraçar o mundo, cheia de alegria contagiante, dinâmica, teimosa, refilona, que nunca desconfiava das pessoas.

 
Era asmática desde os 2 anos, sempre vigiada pelos melhores médicos da especialidade de Lisboa. No dia 23 de Novembro de 1997, dei entrada no hospital Amadora-Sintra, por volta das 3 da manhã, tendo ficado um acompanhante lá fora, como tantas vezes já o tinha feito. Durante quase toda a minha vida tive de lidar com este fato, e pensava que era apenas mais um ataque de asma normal, pensava que chegava ao hospital me punham o oxigénio, administravam-me os medicamentos, ficava lá umas horas e vinha para casa. Só me apercebi daquilo que me aconteceu passados uns 3 meses e mal, pois estava muito confusa e baralhada.

 
Eu não era uma asmática muito grave e estava medicada, tinha ido à urgência quinze dias antes e o médico receitou-me uma nova bomba para a asma, talvez esta tenha sido a causadora do problema, ou então não, mas de qualquer forma, acabou por contribuir para este desfecho. Talvez nunca saberei o que realmente me aconteceu naquela madrugada simplesmente apaguei.

 
Como consequência da minha paragem cardíaca, resultou um apagão quase total das funções vitais do meu organismo. O meu cérebro ficou quase vazio da informação adquirida ao longo de 26 anos. A sensação é a mesma a de um computador a que se faz "reset" e tem de ser reprogramado.

 
As lesões foram extensas, as quais as passo a citar: fiquei cega, com um quadro de tetraplegia e espástica, sem falar, a respirar com a ajuda de um ventilador e a comer através de uma sonda introduzida no nariz até ao estômago, dependente de todas aquelas máquinas que me davam suporte de vida, apenas a minha memória não foi afetada. Tudo isto resultou de uma anóxia cerebral, isto é, faltou oxigénio no cérebro, o que fez um edema com uma considerável extensão nos 2 lobos, cuja lesão foi muito grave, fez bastantes estragos irreversíveis e de muito difícil reabilitação.

 
Estive em coma profundo durante 63 horas, acordei no hospital Santa Maria ao som da voz da minha mãe, ali estava eu em modo "vegetal", tal como uma couve lombarda, pois era assim que os médicos afirmavam que iria ficar toda a vida, talvez um dia me sentasse numa cadeira e aprendesse as 5 vogais, em resumo ninguém dava nada por mim, ou seja, pensavam que eu iria ficar para sempre agarrada à cama. Quando fiquei estável, fui transferida para o hospital da minha residência, o hospital Amadora-Sintra, onde tive duas convulsões e não voltei a responder a estímulo algum. Mais tarde fui para o hospital Ordem Terceira e terminei no Hospital de Alcoitão onde iniciei a minha reabilitação.

 
Contra todas as espetativas tenho vindo a recuperar, muito devagar, mas como devagar se vai ao longe, cá estou eu para cada batalha até vencer a guerra. Eu acho que as únicas pessoas que acreditaram que pudesse recuperar foram os meus pais e o meu querido mano, porque se não fosse o amor, a dedicação e a persistência deles eu não estava como estou hoje.
 
Agora estou mais atenta, bonita segundo as outras pessoas, mas hoje acho que sou bonita por dentro e por fora.

13 setembro 2012

Férias de Verão 2012




Vou escrever sobre as minhas férias, durante o mês de Agosto, no Algarve. Desde que me conheço que passo as férias em Lagos.

Após o meu acidente aos 26 anos (mais tarde volto a falar neste assunto), fiquei com dificuldades na locomoção, mas os meus pais e os meus primos nunca deixaram de me proporciar umas boas férias, dentro das minhas capacidades. Vou sempre à praia, apesar das minhas dificuldades. Há sempre uma mão amiga que me ajuda e por isso estou muito grata.

Já é mais fácil caminhar na areia, mas há sempre "tourada" (estou sempre com a mania de perguntar se estou a andar direita ou torta, o meu pai refila e tal como eu, não sabemos estar calados. E a minha mãe, fica no meio, sofre bastante, tenho de aprender a estar calada e a fechar o bico).

Nas férias, o meu pai fica mais calmo, deve ser por evitar o stress do trânsito diário de Lisboa e estarmos perto do mar.

Este ano a minha prima, foi chamada para ir trabalhar e não está presente, teve sorte em arranjar trabalho na área do curso, para o qual estudou. Por isso não esteve connosco na praia, como nos outros anos, só esteve no último fim-de-semana das férias. Eu sinto a sua falta, cresceu e agora está a construir o caminho dela, teve um anjinho da guarda, que a guia e protege, pois ela é uma boa menina.

A praia tem estado boa, com a nortada do costume, com o calor que se sentiu, até soube bem. Quando cheguei, a temperatura do mar estava boa, contudo tinha alguma ondulação, o que me dificultava caminhar dentro de água, devido à minha falta de equilíbrio, mas mesmo assim consegui tomar umas ricas banhocas. Passado uns dias, a água ficou mais calma, embora mais fria, o que me possibilitou caminhar e nadar à vontade, como eu gosto.



Este ano, foi mesmo para descansar na praia, apanhar uma corzinha às horas corretas, e assim não abusar do sol em demasia. Sentada na beira do mar e na areia molhada, sentia­-me tão bem, que parecia que não tinha limitações nenhumas. Parecia que este ambiente fazia parte de mim, houve uma sintonia bastante grande­, parecia que o mar estava a falar comigo, as ondas que se formavam à beira mar aproximavam-se banhando-me e parecia que estavam a convidar-me para ir ter com ele, o mar.No final das férias, achei que estava muito melhor a caminhar na areia e dentro de água, comparando com o ano anterior. Parece que o meu lado direito "acordou" mais um pouco. Mesmo sendo pouco, juntando os pedaços, logo fará um todo.


11 setembro 2012

Quem é Pandora?

O rei dos deuses, Zeus, criou Pandora com o objetivo de castigar todos os homens que usufruíam do fogo, roubado do Olimpo por Prometeu. Para tal, enviou Pandora para a Terra com uma missão: ofereceu-lhe uma caixa e pediu-lhe para a entregar ao homem com quem casasse. Deste modo, conheceu Epimeteu, irmão de Prometeu, por quem se apaixonou e mais tarde, casou.

Pandora estava muito feliz no seu casamento, por isso acabou por se esquecer da caixa. Passado algum tempo, esta começou a sentir-se sozinha, devido às viagens do seu marido, o que a fez relembrar do seu dote.

Por curiosidade, decidiu abrir a caixa, libertando assim toda a espécie de sentimentos negativos, sombrios e odiosos, como a inveja, a raiva, a ira, o ciúme, etc., em forma de várias criaturas semelhantes a insetos.

Ao aperceber-se do que tinha feito, fechou rapidamente a caixa. Entretanto, começou a ouvir uma voz que lhe dizia: "Pandora, deixe-me sair, só eu posso ajudá-la". Como era uma voz doce, resolveu voltar a abrir a caixa, libertando assim a fada da Esperança. Esta explicou-lhe quais as intenções de Zeus e informou-a que não poderia voltar a prender todos estes males, uma vez que já estavam espalhados pelo mundo.

Pandora começou a chorar e pediu-lhe ajuda, ao que a fada explicou que também tinha sido colocada na caixa com o intuito de dar esperança aos sofredores, lembrando-os que o amanhã pode ser melhor.


 

Para mim a esperança significa que mesmo que o dia seguinte não seja perfeito, há sempre formas de retirar as pedras do nosso caminho, utilizando-as para ir construindo um castelo.